- O que se passa? - Diz chegando ao pé da amiga que se encontrava sentada à mesa como uma sombra humana.
- Sinto-me fraca, dói-me a cabeça, o corpo... Preciso de dormir.
- Dormir? Tens noção do que tens andado a fazer a ti própria?
- Eu?!
- Sim, estás cada vez mais magra. Não te alimentas.
- Magra? Eu estou gordíssima, preciso de perder uns quantos quilos.
- O quê?! Mais ainda?
- Mais? Ainda nao emagreci nada, pareço um pote.
- Desde que começaste essa estúpida dieta que ainda não paraste de emagrecer. O teu corpo transformou-se num esqueleto, o teu sorriso apagou-se e tu, pura e simplesmente, já não és a mesma pessoa. Tornaste-te fria, triste. E sim, estás fraca, mas não é apenas cansaço físico, tu estás doente. Tens problemas graves, a doença está a consumir a amiga que eu conheci. A pessoa que tanto gosto é hoje uma sombra daquilo que alguma vez foi. Porquê? Explica-me porque é que decidiste destruir-te desta maneira.
- Desculpa?! Eu apenas estou gorda, vês algum mal em querer ficar elegante?
- Elegante? A tua elegância desapareceu, juntamente com as tuas formas femininas, que tanto atraíam os homens.
- Atraíam? Eles olhavam-me de lado, lançavam risinhos falsos e aposto que pensavam no quanto estou gorda.
- Tu mereces um balde de água fria em cima para ver se acordas para a vida. Abre os olhos! Abre os olhos enquanto é tempo. Tu precisas de ajuda de um profissional. Ainda vais a tempo. Vamos ao médico, eu vou contigo. - Estende-lhe a mão.
- Nem penses, deixa-me.
- Não deixo, nem te passe pela cabeça que vou abandonar uma amiga neste momento. Tu tens que renascer, eu vou fazer tudo para que isso aconteça. - Abre a porta. - Vamos, sai...
Juntas dirigem-se para o hospital, apesar de ainda não reconhecer que está doente e precisa de ajuda, não argumentou mais e aceitou ir. Estava demasiado fraca para poder continuar a resistir, as lágrimas corriam-lhe pelo rosto e as olheiras, como que em apelo por uma salvação, tornam-se a cada dia mais evidentes na sua face pálida.